sexta-feira, 14 de agosto de 2015

UMA BREVE VISÃO HISTÓRIC DA SAÚDE MENTAL















Nas civilizações clássicas, a doença mental era encarada como uma ação dos deuses ou de demônios, sobre os indivíduos que manifestavam um comportamento anormal.
Contrapondo esta visão, HIPÓCRATES apud SERRANO (1988), defendeu a teoria do comportamento anormal como conseqüência de uma patologia cerebral, causada por lesões cerebrais ou pela hereditariedade.  Também classificou os distúrbios mentais em três categorias:

}              mania;
}              melancolia, e
}              frenite.

Mas, a teoria de possessão demoníaca dos indivíduos que apresentavam distúrbios mentais ainda predominou na antigüidade.
Na Idade Média, a preocupação de entender as causas da doença mental foi substituída pela perseguição às “bruxas”.   A feiticeira era considerada o perigo social, e o inquisidor era o benfeitor da sociedade, protegendo-a.
Na metade do Século XV, os indivíduos com distúrbios de comportamento eram levados de uma cidade para outra pelos marinheiros.  Essas embarcações foram denominadas por FOUCALT (1978) de “naus dos loucos”, que eram encarregados de levar “sua carga insana”.
Posteriormente, o louco tornou-se o problema social e a solução foi a psiquiatria institucional.
Apenas no Século XVII, iniciou-se o internamento dos doentes mentais.    As casas de internação utilizadas para a reclusão dos insanos foram anteriormente, o abrigo de leprosos e, depois dos indivíduos portadores de doenças venéreas.
Os hospitais psiquiátricos espalharam-se por toda Europa, e ocorreram as grandes internações de:
“... jovens que perturbavam o descanso de suas famílias ... vagabundos e insanos”. (FOUCALT, 1978, p. 55)

A perseguição aos loucos aumentou, principalmente com o advento da Revolução Industrial, e as casas de internação se proliferaram em regiões altamente industrializadas.
A sociedade norteada por idéias capitalistas, encarava o louco como indivíduo pobre que se negava a trabalhar, tornando-se uma ameaça social e um problema moral.
Conseqüentemente, a internação dos “insanos, vagabundos e marginais”  tinha o propósito de afastá-los do convívio público e obrigá-los a trabalhar.
PINEL e CHIARUGI apud SERRANO (1998),  foram os primeiros que pregaram por um tratamento compreensivo aos doentes mentais.  O tratamento realizado nas instituições psiquiátricas, dirigidas por PINEL, era denominado “educação da vontade”, que visava a disciplina da mente.
No Século XVIII,  a visão da origem das doenças mentais estava diretamente relacionada com mudanças orgânicas no cérebro ou no sistema nervoso central.  Conseqüentemente, desenvolveu-se uma interpretação causal orgânica do comportamento anormal.
A psiquiatria tinha a função de diagnosticar os sintomas, estipular o prognóstico e o tratamento.  Baseando-se na teoria da origem da doença mental como um problema constitucional-genético, as instituições psiquiátricas tinham como fundamento a cura da doença mediante intervenção física ou química.
No decorrer do Século XIX passou-se a utilizar o termo psicose, principalmente na literatura psiquiátrica alemã, para designar as doenças mentais em geral, porém não se considerava a teoria psicogenética da loucura.
Na segunda metade do Século XIX, o positivismo cria uma teoria psiquiátrica, na qual o louco é incapaz de raciocinar, em decorrência de problemas patológicos.
Surge a psicopatologia, com o objetivo de estudar os sintomas mentais.  O “manicomialismo positivista”  caracterizou-se com um hospício cercado, visando isolar o doente e vigiar suas atitudes.
Como a interpretação sobre a origem orgânica da doença mental não é completa, uma vez que em indivíduos perturbados e manifestando “sintomas físicos”  não se descobriu qualquer base física para o problema, desenvolveu-se vários trabalhos, contrapondo-se à medicina organicista.
CONOLLY apud SERRANO (1988) tentou realizar um tratamento mais humano nos hospitais psiquiátricos, implantando uma assistência psicossocial.  Em 1839 CONOLLY aboliu os métodos de contenção.  Mas foi JONES apud SERRANO (1988), que realmente realizou uma significativa transformação nas estruturas manicomiais.
Obras de CHARCOT, JANET e FREUD  sobre distúrbios sem causas neurológicas  ou fisiológicas discerníveis, desencadeou extraordinários progressos na compreensão da base psicológica da neurose.   Foi no final do Século XIX que ocorreu a distinção entre o termo neurose e psicose. (FINE, 1981)
No início do Século XX, Eugen Bleuler apud SILVEIRA, (2000) era diretor do hospital Burgholzli, em Zurique e, questionava a descrição dos sintomas das doenças mentais da época.
BLEULER apud SILVEIRA (2000) deu à Psiquiatria uma base psicológica e publicou trabalhos inovadores como dementia praecox  ou grupo das esquizofrenias.
JUNG apud SILVEIRA (1982), após a conclusão do curso Médico, em 1900, foi trabalhar no Burgholzli, junto com BLEULER.
JUNG procurou correlacionar distúrbios psicológicos nas diversas formas clínicas das denominadas demências precoces.
Porém, na maioria dos hospitais psiquiátricos predominava uma medicina organicista.  Algumas instituições procuraram reorganizar suas bases para melhor atender às necessidades do indivíduo com problemas mentais.  Algumas delas foram:
}              o hospital de Saint-Allan, onde tentaram pragmatizar as idéias de FREUD na instituição, implantando a psicoterapia institucional;
}              a psiquiatria de setor, utilizada, principalmente por psiquiatras sociais franceses;
}              a instituição como modelo psiquiátrico condutivista, onde se procurava condicionar os “loucos” a outros comportamentos;
}              a psiquiatria de rede, na qual os pacientes exerciam auto-gestão dos seus problemas psíquicos.

Com a mudança da visão de alguns psiquiatras sobre a origem da doença mental, enfatizando-se o papel da sociedade no desencadeamento dos problemas psíquicos, surgiram eminentes figuras que negaram a instituição manicomial e a doença mental como causa fisiológica e neurológica.  Esse movimento denominou-se Antipsiquiatria.
Diferente da Psiquiatria Tradicional, a Antipsiquiatria considera a doença mental como um reflexo da crise macrossocial, e a loucura não se encontra no indivíduo e, sim no sistema social.  Os sintomas apresentados pelo paciente psiquiátrico são o reflexo do comportamento grupal perturbado.   Partindo desta premissa, COOPER, LAING e BASAGLIA apud DUARTE (1986), inovaram o sistema de atendimento e de tratamento ao psicótico e reestruturaram instituições psiquiátricas, baseados na Teoria da Antipsiquiatria.
A concepção sobre psicose se alterou no decorrer dos séculos, refletindo mudanças nas formas de tratamento.
Atualmente, a polêmica sobre a origem e os tipos de tratamento para o doente mental persiste, questionando-se também a eficácia da estrutura manicomial vigente.