Nas civilizações clássicas, a doença mental era encarada como
uma ação dos deuses ou de demônios, sobre os indivíduos que manifestavam um
comportamento anormal.
Contrapondo esta visão, HIPÓCRATES apud SERRANO (1988), defendeu a teoria do comportamento anormal
como conseqüência de uma patologia cerebral, causada por lesões cerebrais ou
pela hereditariedade. Também classificou
os distúrbios mentais em três categorias:
}
mania;
}
melancolia, e
}
frenite.
Mas, a teoria de possessão demoníaca dos indivíduos que
apresentavam distúrbios mentais ainda predominou na antigüidade.
Na Idade Média, a preocupação de entender as causas da doença
mental foi substituída pela perseguição às “bruxas”. A feiticeira era considerada o perigo
social, e o inquisidor era o benfeitor da sociedade, protegendo-a.
Na metade do Século XV, os indivíduos com distúrbios de
comportamento eram levados de uma cidade para outra pelos marinheiros. Essas embarcações foram denominadas por
FOUCALT (1978) de “naus dos loucos”, que eram encarregados de levar “sua carga
insana”.
Posteriormente, o louco tornou-se o problema social e a solução
foi a psiquiatria institucional.
Apenas no Século XVII, iniciou-se o internamento dos doentes
mentais. As casas de internação
utilizadas para a reclusão dos insanos foram anteriormente, o abrigo de
leprosos e, depois dos indivíduos portadores de doenças venéreas.
Os hospitais psiquiátricos espalharam-se por toda Europa, e
ocorreram as grandes internações de:
“... jovens que perturbavam o descanso de suas famílias ...
vagabundos e insanos”. (FOUCALT, 1978, p. 55)
A perseguição aos loucos aumentou, principalmente com o advento
da Revolução Industrial, e as casas de internação se proliferaram em regiões
altamente industrializadas.
A sociedade norteada por idéias capitalistas, encarava o louco
como indivíduo pobre que se negava a trabalhar, tornando-se uma ameaça social e
um problema moral.
Conseqüentemente, a internação dos “insanos, vagabundos e
marginais” tinha o propósito de
afastá-los do convívio público e obrigá-los a trabalhar.
PINEL e CHIARUGI apud SERRANO
(1998), foram os primeiros que pregaram
por um tratamento compreensivo aos doentes mentais. O tratamento realizado nas instituições
psiquiátricas, dirigidas por PINEL, era denominado “educação da vontade”, que
visava a disciplina da mente.
No Século XVIII, a visão
da origem das doenças mentais estava diretamente relacionada com mudanças
orgânicas no cérebro ou no sistema nervoso central. Conseqüentemente, desenvolveu-se uma
interpretação causal orgânica do comportamento anormal.
A psiquiatria tinha a função de diagnosticar os sintomas,
estipular o prognóstico e o tratamento.
Baseando-se na teoria da origem da doença mental como um problema
constitucional-genético, as instituições psiquiátricas tinham como fundamento a
cura da doença mediante intervenção física ou química.
No decorrer do Século XIX passou-se a utilizar o termo psicose,
principalmente na literatura psiquiátrica alemã, para designar as doenças
mentais em geral, porém não se considerava a teoria psicogenética da loucura.
Na segunda metade do Século XIX, o positivismo cria uma teoria
psiquiátrica, na qual o louco é incapaz de raciocinar, em decorrência de
problemas patológicos.
Surge a psicopatologia, com o objetivo de estudar os sintomas
mentais. O “manicomialismo
positivista” caracterizou-se com um
hospício cercado, visando isolar o doente e vigiar suas atitudes.
Como a interpretação sobre a origem orgânica da doença mental
não é completa, uma vez que em indivíduos perturbados e manifestando “sintomas
físicos” não se descobriu qualquer base
física para o problema, desenvolveu-se vários trabalhos, contrapondo-se à
medicina organicista.
CONOLLY apud SERRANO
(1988) tentou realizar um tratamento mais humano nos hospitais psiquiátricos,
implantando uma assistência psicossocial.
Em 1839 CONOLLY aboliu os métodos de contenção. Mas foi JONES apud SERRANO (1988), que realmente realizou uma significativa transformação
nas estruturas manicomiais.
Obras de CHARCOT, JANET e FREUD
sobre distúrbios sem causas neurológicas
ou fisiológicas discerníveis, desencadeou extraordinários progressos na
compreensão da base psicológica da neurose.
Foi no final do Século XIX que ocorreu a distinção entre o termo neurose
e psicose. (FINE, 1981)
No início do Século XX, Eugen Bleuler apud SILVEIRA, (2000) era diretor do hospital Burgholzli, em
Zurique e, questionava a descrição dos sintomas das doenças mentais da época.
BLEULER apud SILVEIRA
(2000) deu à Psiquiatria uma base psicológica e publicou trabalhos inovadores
como dementia praecox ou grupo das esquizofrenias.
JUNG apud SILVEIRA
(1982), após a conclusão do curso Médico, em 1900, foi trabalhar no Burgholzli,
junto com BLEULER.
JUNG procurou correlacionar distúrbios psicológicos nas diversas
formas clínicas das denominadas demências precoces.
Porém, na maioria dos hospitais psiquiátricos predominava uma
medicina organicista. Algumas
instituições procuraram reorganizar suas bases para melhor atender às
necessidades do indivíduo com problemas mentais. Algumas delas foram:
}
o hospital de Saint-Allan, onde tentaram
pragmatizar as idéias de FREUD na instituição, implantando a psicoterapia
institucional;
}
a psiquiatria de setor, utilizada,
principalmente por psiquiatras sociais franceses;
}
a instituição como modelo psiquiátrico
condutivista, onde se procurava condicionar os “loucos” a outros
comportamentos;
}
a psiquiatria de rede, na qual os pacientes
exerciam auto-gestão dos seus problemas psíquicos.
Com a mudança da visão de alguns psiquiatras sobre a origem da
doença mental, enfatizando-se o papel da sociedade no desencadeamento dos
problemas psíquicos, surgiram eminentes figuras que negaram a instituição
manicomial e a doença mental como causa fisiológica e neurológica. Esse movimento denominou-se Antipsiquiatria.
Diferente da Psiquiatria Tradicional, a Antipsiquiatria
considera a doença mental como um reflexo da crise macrossocial, e a loucura
não se encontra no indivíduo e, sim no sistema social. Os sintomas apresentados pelo paciente
psiquiátrico são o reflexo do comportamento grupal perturbado. Partindo desta premissa, COOPER, LAING e
BASAGLIA apud DUARTE (1986), inovaram
o sistema de atendimento e de tratamento ao psicótico e reestruturaram
instituições psiquiátricas, baseados na Teoria da Antipsiquiatria.
A concepção sobre psicose se alterou no decorrer dos séculos,
refletindo mudanças nas formas de tratamento.
Atualmente, a polêmica sobre a origem e os tipos de tratamento
para o doente mental persiste, questionando-se também a eficácia da estrutura
manicomial vigente.