No final do século XIX procurou-se distinguir a neurose de
psicose. Em uma carta de FREUD para
FLIESS ocorre a distinção bem clara entre o termo neurose e psicose.
Em seus primeiros escritos FREUD tentou identificar os
mecanismos que operam na relação do sujeito com o exterior e relacionar o
conflito defensivo contra a sexualidade em determinadas psicoses.
Em 1911 e 1914, FREUD enfocou a psicose a partir da relação
entre os investimentos libidinais e os investimentos das pulsões do ego, no
objeto.
Na segunda teoria do aparelho psíquico Freud afirmou que na
psicose ocorre a ruptura do ego[1] e a
realidade, e o ego fica sob o domínio do id[2]. Os delírios na psicose são os desejos do id,
e todas as pulsões se acham agrupadas num mesmo pólo do conflito defensivo (o
id).
Na última fase da obra de FREUD, propõe-se a psicose como uma
busca de um mecanismo, inteiramente original de rejeição da realidade. É a retração da libido que abandona os
objetos e volta-se para o ego. É o conflito entre o ego e a realidade, é
uma defesa contra a frustração e idéias intoleráveis, segundo os psicanalistas.
Porém, FREUD excluiu o tratamento analítico para a psicose,
alegando a dificuldade do psicótico em estabelecer a transferência necessária para o analista.
FREUD, em abril de 1928, mencionou ao psicanalista húngaro
HOLLÓI apud GAY (1989) a sua
resistência a tratar psicóticos:
“Finalmente confessei a mim mesmo que não gosto dessas pessoas
doentes, que me zango com elas por senti-las tão distante de mim e de tudo o
que é humano”. (GAY, 1989, p. 488)
Foram analistas subseqüentes que efetivamente realizaram um
trabalho terapêutico com os psicóticos, reelaborando e revendo algumas das
teorias de FREUD.
Alguns psicanalistas que realizaram trabalhos com psicóticos
foram:
}
Paul Federn (1934), defendeu que os
pacientes psicóticos capazes de realizar a transferência, podiam ser tratados
pela psicanálise.
}
Harry Stack Sullivan apud FINE (1981) foi o primeiro analista a comunicar
resultados bem-sucedidos no tratamento.
Afirmou que o psicótico deve ser despido da implicação de cronicidade e
deterioração inevitável.
}
Melaine Klein apud FINE (1981) não diferenciou agudamente o neurótico e o
psicótico. Considerou que todos os
indivíduos passam por fases paranóides e depressivas na infância, e que estas fases ficaram marcadas em graus
diferentes e são suscetíveis de tratamento.
Alguns sintomas manifestados pelo psicótico, segundo a
psicanálise, são:
}
a dificuldade do ego em lidar com os conflitos;
}
ansiedade, pânico e mecanismo de defesa;
}
regressão oral;
}
hostilidade mais forte que a sexualidade;
}
mãe esquizofrênica. A mãe do psicótico contribui para que o filho
fuja para o mundo da psicose com a finalidade de encontrar a paz;
}
profundo egocentrismo dos pais, eles são os
precursores da regressão cognitiva do paciente, e
}
sintomas alucinatórios e ilusórios são
tentativas de restauração e reestruturação psíquica.
Para Psicanálise, os sintomas são o reflexo de algum processo
subjacente. O tratamento proposto pela psicanálise é o da Psicoterapia. Segundo FEDERN apud FINE (1981), os pacientes psicóticos que são capazes de
realizar a transferência são acessíveis à Psicanálise. É relevante que uma parte do ego do psicótico
perceba seu estado anormal, e ele esteja dirigido para a realidade. Deve-se precaver na análise de um psicótico
não aumentar a regressão de seu estado.
O tratamento psicanalítico realizado por FEDERN apud FINE (1981), visa o estabelecimento
de transferência positiva e a interrupção da transferência negativa.
Entende-se por transferência na psicanálise:
“...o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam
sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida
com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica.
Trata-se de uma repetição de protótipos infantis vivida com um
sentimento de atualidade acentuada”. (LAPLANCHE, 1992, p. 14)
Na Psicoterapia Psicanalítica individual, o paciente, através da
associação livre, expõe lembranças, emocionalmente, carregadas de
acontecimentos da infância, supostamente, subjacentes à perturbação atual. Através da associação livre, pretende-se
permitir que ocorra insight das
origens dos conflitos.
Um dos tratamentos conhecidos realizados pela Psicanálise foi o
Caso Schreber (1911), desenvolvido por FREUD.
Outro foi realizado por GREEN apud
FINE (1981), que posteriormente relatou no seu livro “Nunca lhe prometi um
jardim de rosas”.
SULLIVAN apud FINE
(1981), também realizou tratamentos que tiveram resultados bem-sucedidos.
A Psicoterapia pode, também, ser realizada em grupo. A terapia grupal é uma praxe no tratamento
hospitalar.
A Terapia Familiar é o tratamento das pessoas da família como um
grupo. A família é uma das responsáveis
pela criação e manutenção do comportamento perturbado do indivíduo, sendo
relevante um trabalho realizado, diretamente com ela.
A crítica existente do modelo médico à Psicanálise refere-se ao
tratamento psicoterápico para psicótico, visto que o objetivo da análise é
tornar o inconsciente do indivíduo consciente. No entanto, o psicótico já tem
seu inconsciente à mostra, conseqüentemente ele necessita é da repressão desses
conteúdos.
Outro aspecto é que o paciente psicótico não consegue simbolizar
para os psicanalistas. Não simbolizando,
o paciente não realiza a transferência com seu terapeuta, que é um fator
fundamental para o sucesso da análise.
Outra problemática é que para a Psicanálise, os símbolos que se
apresentam na idéias delirantes dos pacientes psicóticos são como disfarce de
tendências e desejos inconscientes, e com motivos de natureza sexual.
A imagem para Psicologia Freudiana está no plano secundário e
que deveriam, segundo WIART apud (SILVEIRA, 2001), ser transposto em palavras.
Para a Psicanálise a palavra é o único meio de comunicação que
possibilita elaborar os conteúdos inconscientes, e realizar o processo de
“cura”. A interação entre o terapeuta e
o paciente é apenas verbal e os conteúdos expressos através de expressão
plástica devem ser interpretados, verbalmente.
Como o paciente em surto psicótico tem dificuldade de verbalizar, fica
limitada a atuação do terapeuta psicanalista nestes casos.
FREUD dizia que:
“... para o psicótico, a psicanálise não era o método mais
adequado. As pessoas teimam em usá-lo em
detrimento do paciente, que é envolvido nas mais grosseiras contradições que se
possa imaginar, em função desta confusão”.
(DAMETTO, 1981, p. 70)
Enfim, para FREUD, como é inviável estabelecer transferência nas
denominadas neuroses narcisistas (esquizofrenias, paranóia e melancolia), seria
pouco provável viabilizar uma Terapia Psicanalítica.
Apenas na década de 30 alguns pioneiros tentaram realizar um
tratamento psicanalítico dos psicóticos.