sexta-feira, 5 de março de 2010

O CORPO COMO RASCUNHO DAS EMOÇÕES: DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES À OBESIDADE MÒBIDA E O SEU RETORNO À PALAVRA

O CORPO COMO RASCUNHO DAS EMOÇÕES: DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES À OBESIDADE MÒBIDA E O SEU RETORNO À PALAVRA



Anna Claudia Queiroz, Rosangela Araújo, Ana Rita Azevedo, Maria Lúcia Rebello, Lorena Lins, Irtes Ferreira, Andrea Pinchelli, Bruna Oneda, Patricia Pinchelli,Juliana Sales,
Catarina Harmbacher, Elaine Azevedo, Michele Pereira De Lima, Ana Lúcia Villaron,
Marco Pinheiro, Ana Silvia Pacheco Rosa, Roberto Kikko, Moacir Fernandes.




Introdução: A construção da identidade se estabelece na relação do sujeito com o seu corpo. É no complexo de Édipo que se realiza esta percepção.A função do pai na relação Edípica é estruturante do ponto de vista inconsciente, possibilitando o recalque originário, levando a criança a renunciar o objeto inaugural de seu desejo, tornando-o inconsciente. O significante Nome-do-pai produz o simbólico da linguagem, tendo como função perpetuar o objeto originário do desejo, atualizando a castração e propiciando o sujeito a simbolizar. Quando ocorrem as falhas daquele que poderia dizer “não”, no corte que possibilita o indivíduo a falar, o corpo passa a falar. O corpo como o rascunho das emoções, expressando as angústias e marcas da história de vida do sujeito. Apresentando dificuldade em simbolizar, o sintoma manifesto no corpo é uma nova nomeação, uma marca. O fato de o psíquico repousar sobre o orgânico facilita o desencadear de adoeceres.
É o analista que provoca novas formas de simbolização, levando o sujeito a não mais utilizar o corpo como rascunho das emoções, e sim a palavra.

Objetivo: O objetivo deste trabalho foi apresentar uma possibilidade de intervenção que convoque o sujeito à palavra. É solicitado ao sujeito relatar sua história, com a finalidade de refletir sobre o seu sintoma, com o seu sofrimento e com a suas experiências de vida.

Métodos: Os dados apresentados são registros do atendimento de um caso clínico e da discussão em supervisão, de uma paciente que apresentou na adolescência sintomas de anorexia e bulimia nervosa, e atualmente se submeteu à cirurgia bariátrica, por apresentar uma obesidade mórbida

Resultados: Na avaliação psicológica da cirurgia bariátrica é solicitado ao paciente relatar sua história de vida como possibilidade do sujeito elaborar suas vivências e o seu sintoma, a obesidade. ELA é candidata à cirurgia bariátrica, pois apresenta 163 kg. Ao recordar a sua infância menciona a postura de um pai agressivo, porém omisso na educação. A mãe era ausente em decorrência do medo que apresentava do marido, havendo falhas na maternagem. ELA na adolescência não era obesa, mas ao se olhar no espelho, achava que estava gorda, e passa a se utilizar a estratégia de comer e vomitar, e posteriormente de não comer, desencadeando sintomas de bulimia e anorexia nervosa. O sintoma de anorexia e a desnutrição geram a sensação de fragilidade. Um dia, a paciente é ameaçada fisicamente pelo pai e sente a necessidade de estar mais forte, voltando a comer compulsivamente, desencadeando uma obesidade mórbida, tendo a sensação de ter um corpo forte.

Conclusão: Conclui-se que o indivíduo que apresenta dificuldades em expressar as suas emoções verbalmente, utiliza o sintoma como a marca e escrita em seu corpo. O atendimento clínico teve como objetivo provocar o paciente a falar, a passar a usar as palavras como expressão, não mais o corpo. Ao constatar a função dos sintomas, que são os transtornos alimentares e a obesidade, surge a possibilidade de o sujeito a não fazer mais do corpo o rascunho das emoções.



Palavras-Chaves: Transtornos alimentares, Obesidade Mórbida, Cirurgia bariátrica, Corpo, Somatização.