sexta-feira, 5 de março de 2010

OBESIDADE E COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS: SINTOMAS PARALIZADORES DA VIDA

OBESIDADE E COMORBIDADES PSIQUIÁTRICAS: SINTOMAS PARALISADORES DA VIDA


Anna Claudia Queiroz,Lorena Lins, Ana Rita de Azevedo, Rosangela Araújo, Maria Lúcia Rebello, , Irtes Ferreira, Andrea Pinchelli, Bruna Oneda, Patricia Pinchelli,Juliana Sales,
Catarina Harmbacher, Elaine Azevedo, Michele Pereira De Lima, Ana Lúcia Villaron,
Marco Pinheiro, Ana Silvia Pacheco Rosa, Roberto Kikko, Moacir Fernandes.


Introdução: O sintoma pode emergir como uma resposta ao real. O desencadear de uma sintomatologia, muitas vezes, está associado com a vivência de uma situação traumática, de difícil elaboração psíquica. Em determinadas situações, observa-se que alguns sintomas emergem de conflitos vivenciados pelo sujeito, paralizando-o frente à vida, e levando-o a obter ganhos secundários com o adoecer. A obesidade, como também alguns transtornos psiquiátricos, justifica, para muitos pacientes, uma série de impedimentos na obtenção de sucesso na vida afetiva e profissional. Objetivo: Verificar o quanto o desencadear do sintoma obesidade, associado com alguns transtornos psiquiátricos, está relacionado com uma situação vivenciada, de difícil elaboração psíquica, e se a sua manutenção é decorrente de algum ganho secundário que se obtém com o adoecer.

Métodos: Análise quantitativa e qualitativa dos atendimentos realizados no período de Abril a Dezembro de 2008, na Unimed de São José dos Campos/ SP. O total de pacientes atendidos foi de 174. Além da entrevista clínica, utilizou-se o Inventário Sobre Peso e Estilo de Vida (WALI) e o PRIME MD (avaliação de distúrbios mentais para atenção primária).

Resultados: Da amostra, 19% era do gênero masculino, e 81 % do gênero feminino. Os transtornos psiquiátricos não foram identificados em 19% dos pacientes, sendo que os demais apresentaram entre um (16%), dois (30%) e até três (35%). das comorbidades psiquiátricas. O transtorno depressivo foi o mais freqüente, atingindo 119 pacientes, seguido do transtorno de ansiedade, com 110 pacientes. O distúrbio de pânico estava presente em 15 pacientes. Os transtornos psiquiátricos referentes à alimentação, tais como compulsão alimentar ou bulimia, foram diagnosticados em 65 sujeitos. Observou-se um índice elevado das comorbidades psiquiátricas associada ao sintoma obesidade. No relato da história de vida do sujeito, verificou-se uma relação do desencadear das referidas sintomatologias a uma situação de difícil elaboração psíquica, muitas vezes justificando a paralização frente à vida.

Conclusão: O sintoma obesidade, associada a outros transtornos psiquiátricos, parece ser um recurso psíquico que visa à defesa do sujeito a uma situação traumática. A remoção do sintoma obesidade, através da cirurgia bariátrica, por exemplo, sem cuidar dos aspectos psíquicos inerentes ao seu desencadear e sua manutenção, leva a uma grande probabilidade de substituição por outros sintomas, outras compulsões ou reganho de peso. Já no tratamento clínico da obesidade, se o sintoma tem uma função para o sujeito, e este não for tratado, o paciente apresenta dificuldades no emagrecimento, ou grande possibilidade de reganho de peso após emagrecer. Conseqüentemente, há um significado no sintoma, um sentido, que necessita de um código de decifração. O tratamento psicanalítico com pacientes obesos é uma possibilidade que viabiliza a constatação da função do sintoma, seja o excesso de peso, como as comorbidades psiquiátricas associadas. Tratar os ganhos secundários que se obtém com o adoecer é fundamental, auxiliando o sujeito na perda: do peso, dos ganhos secundários, do direito de se acomodar na vida profissional, e do direito de se acomodar na vida pessoal, propiciando-o a se defrontar com vivências psíquicas novas.


Palavras-Chaves: Obesidade, Transtornos psiquiátricos, Ganhos secundários, tratamento.